INFLAÇÃO: SE EU NÃO A VEJO NA CONTABILIDADE, NÃO EXISTE?
Resumo
O suposto controle da inflação e a falsa ideia da sua extinção em 1994 com a entrada do Plano Real no Brasil desobrigaram a aplicação do modelo de correção monetária nas demonstrações financeiras, levando à ilusão (universalizada, inclusive) de que os efeitos da inflação nas demonstrações contábeis não seriam relevantes para as análises e decisões. Desprezou-se a inflação acumulada de dezembro de 1995 até meados de 2017 de 291%. Para evidenciar erros danosos mesmo em períodos de “baixa” inflação, utilizou-se o modelo de correção monetária de balanços (CMB) utilizado oficialmente até 1995 para reconhecer os efeitos inflacionários nas demonstrações de uma amostra de 53 empresas, 48 não financeiras e 5 financeiras da base de dados da Melhores & Maiores no período de 2010 a 2016. Esse cálculo é conservador, porque considerou apenas a inflação desse período, como se nunca tivesse havido inflação entre 1995 e 2010. Mesmo com essas restrições, em geral os resultados evidenciaram diferenças médias muito materiais entre os valores corrigidos e nominais de 59% no Retorno Sobre o Ativo (ROA) e de 44% no Retorno Sobre o Patrimônio Líquido (ROE). Em relação ao custo da dívida e ao Grau de Alavancagem Financeira (GAF), assuntos pioneiramente tratados na literatura, essas diferenças são de expressivos 88% e 117%, respectivamente. Por fim, verificou-se que 75% (40 em 53) das empresas estão distribuindo lucros maiores do que seria distribuído pelas demonstrações corrigidas, e algumas, menores.